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Agendado para ter início às 21h30, o show de Cyndi Lauper no Via Funchal, em São Paulo, atrasou em torno de meia hora. Casa lotada até o último metro quadrado, calor africano e surge a figura da cantora no palco, embalada numa camisa-bata Yohji Yamamoto (com volumes esquisitos e proporções japonistas), calça de couro justa no corpo e cabelo curtinho com aplique lateral de mechas longas e tingidas em cores new rave desbotadas. Aos 55 anos de idade, a cantora que nasceu no Brooklyn, em Nova York, só parou de pular, sacudir e gritar nos intervalos das músicas, quando aproveitou para fazer piada com um dicionário de frases em português (confira fotos exclusivas na galeria ao lado).

Na abertura, Change Of Heart, do aclamado álbum True Colors (1986), seguida das novidadeiras Set Your Heart e Grab a Hold, ambas do Bring Ya To The Brink, lançado em maio deste ano. Com os ânimos a todo vapor, Cyndi desceu a ladeira da memória para o álbum She's So Unusual com a música When U Were Mine e o clássico She Bop (trecho abaixo). O clima esfriou de leve com a entrada de mais uma música nova, a faixa Echo, também do Bring Ya To The Brink. Apesar do hiato, Cyndi segurou a onda com vocais altíssimos repletos de intervalos musicais, levando o conceito de "voz como instrumento" às últimas consequências. Atropelou o setlist com o inesperado Goonies R Good Enough, tema do filme The Goonies, e na sequência emendou uma bateria de hits absolutos: I Drove All Night, Time After Time, Girls Just Wanna Have Fun e True Colors para fechar o show que também teve como extra a música Rockin' Chair, a pedido da multidão ensandecida.





Na platéia, aquela galera trash 80s, composta em sua maioria por gente acima dos 30 anos de idade, para quem a nostalgia é canalizada muito mais em forma de constrangimento do que saudosismo. Eles gostam de Cyndi Lauper, Erasure, Depeche Mode, Joy Division, The Cure. Mas também gostam de Sérgio Mallandro, Perla, Xuxa, Sidney Magal e Gretchen. Um pouco descriteriosa, é impossível afirmar se essa platéia tinha ciência da sofisticação musical de Cyndi, ou se estavam apenas esperando ela sair de cena para voltar com uma peruca kabuki cor-de-rosa e um salto plataforma clubber (o que não aconteceu). Muito provavelmente eles desconhecem os trabalhos paralelos de Cyndi, como o álbum At Last, um primoroso ensaio de soul, jazz, blues, rock & pop.

Muitos comparam Cyndi Lauper à Madonna, o que talvez seja uma das analogias mais infelizes da indústria fonográfica. Embora Cyndi não tenha conseguido a notoriedade nem a fortuna de sua suposta rival (alguém conseguiu?), a cantora soma raros predicados: Cyndi Lauper, para começar, canta. E não canta pouco, aliás, canta como poucas. Seu alcance vocal é tão improvável que chega a assustar, causa espanto na platéia e, aqui no Brasil, estremeceu (literalmente) o Via Funchal. A cada agudo de Cyndi, a turba urrava num uníssono que parecia um terremoto, arrepiando cada fio de cabelo, dando a sensação de que o teto do Via Funchal ia desabar a qualquer momento. Apesar de sobreviver principalmente dos hits que fizeram a sua fama nos longínquos anos 80, Cyndi o faz com muita técnica e precisão: no meio das batidas pop estão arranjos complexos, intervalos musicais quase inaudíveis, uma sofisticação jazzista com pegada de soul e punch de rock and roll. Cyndi pula, grita, agita, manda e desmanda no seu público. E traz com isso a triste conclusão: não se fazem mais artistas como ela.



Apresentação extra Cyndi Lauper no Via Funchal
14 de novembro/2008 (sexta-feira)
Horário: 21h30
Abertura da casa: 19h30
Rua Funchal, 65 - Vila Olímpia

http://www.imagebam.com/image/2e54a318283274

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